
A África Ocidental enfrenta crescente desinformação impulsionada por potências estrangeiras
As campanhas de desinformação nas redes sociais na África Ocidental estão em ascensão, especialmente nos países da região do Sahel, onde ocorreram golpes de Estado. Isso tem afetado diretamente o trabalho dos jornalistas, que enfrentam um cenário político cada vez mais desafiador.
A maioria dessas campanhas está sendo financiada por potências estrangeiras, com destaque para a Rússia, que tem promovido um discurso antiocidental. Desde 2018, a Rússia tem lançado campanhas direcionadas principalmente ao Mali, Burkina Faso e Níger, especialmente após as juntas militares expulsarem as forças ocidentais. De acordo com o Africa Center for Strategic Studies, cerca de 60% das campanhas de desinformação têm apoio de Estados estrangeiros, sendo a maior parte delas favorável à Rússia. A Rússia tem conseguido ampliar sua influência na região, aproveitando o terreno fértil de sentimentos antiocidentais.
O impacto da manipulação da opinião pública
Além da Rússia, países como a China e o Catar também estão presentes na região, participando de um jogo geopolítico para conquistar aliados. “Há uma rivalidade crescente entre antigos e novos parceiros que buscam se estabelecer nesses espaços”, afirma Harouna Simbo, jornalista e analista de desinformação.
A propagação de informações falsas tem prejudicado o trabalho dos jornalistas locais, que já enfrentam pressão política. Nos últimos anos, as juntas militares em países como Mali, Burkina Faso e Níger têm tentado silenciar os meios de comunicação que consideram “antipatrióticos”. De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, muitos jornalistas na região têm sido intimidados, ameaçados e até sequestrados.
A internet como campo de batalha geopolítico
A região do Sahel se transformou em um campo de batalha geopolítico, também refletido na internet. “A batalha pela narrativa está cada vez mais presente no mundo digital”, diz Hamadou Tidiane Sy, diretor da escola de jornalismo Ejicom, em Dakar. Para Sy, a manipulação das massas é facilitada pela falta de informação e literacia mediática, um desafio que é aproveitado por diferentes potências para reforçar suas próprias agendas.
A importância da verificação de fatos
A luta contra a desinformação também envolve iniciativas locais de verificação de fatos. Adnan Sidibé, da plataforma Fasocheck.org, ressalta que a verificação de informações é essencial para a saúde pública e para prevenir danos à população. Ele cita exemplos como a disseminação de tratamentos pseudocientíficos, que podem ter consequências graves, como falência renal.
Durante a pandemia de Covid-19, tratamentos questionáveis circulavam nas redes sociais, com consequências fatais para algumas pessoas. Sidibé foi reconhecido como o melhor verificador de fatos profissional de África no Africa Fact Summit em Gana, destacando a importância de informações verificadas no combate à desinformação.
A solução passa pela educação e acesso à informação
Para combater esse fenômeno, Sy defende que é necessário sensibilizar a população sobre literacia mediática e garantir maior acesso à informação pública. No entanto, ele reconhece que os próprios políticos muitas vezes se beneficiam da ignorância das massas para manipular a opinião pública e alcançar seus objetivos.
A desinformação continua sendo um desafio crescente na região, com a necessidade urgente de formar jornalistas e cidadãos para identificar e combater os perigos das fake news.