
Reserva pode conter até 20 milhões de toneladas de minerais essenciais para tecnologia
Cazaquistão identifica reserva de terras raras considerada a terceira maior do mundo
Um importante depósito de elementos de terras raras foi identificado na região de Karagandy, no centro do Cazaquistão, com estimativas iniciais que apontam para cerca de 20 milhões de toneladas em reservas potenciais.
O anúncio foi feito às vésperas da cimeira União Europeia–Ásia Central, no Uzbequistão, e surge como um movimento estratégico, segundo analistas. A descoberta, localizada numa área agora chamada de “Novo Cazaquistão”, inclui quase um milhão de toneladas de elementos como cério, lantânio, neodímio e ítrio – componentes fundamentais em tecnologias como smartphones, câmaras digitais e discos rígidos.
De acordo com o Ministério da Indústria e Construção do país, quatro zonas com elevado potencial foram mapeadas, totalizando cerca de 935 mil toneladas desses minerais. As projeções sugerem que, a uma profundidade de 300 metros, a área pode conter até 20 milhões de toneladas, com uma concentração média de 700 gramas por tonelada.
Especialistas, contudo, pedem cautela. Georgiy Freiman, presidente da Associação Profissional de Peritos Mineiros Independentes (PONEN), afirma que ainda é cedo para considerar a área como um verdadeiro depósito. Para isso, seria necessário aprofundar os estudos geológicos, hidrogeológicos e económicos, além de avaliar a viabilidade de extração e o modelo de exploração mais adequado.
A exploração no local teve início em 2022, com os primeiros resultados reportados ao governo em outubro de 2024. Para muitos analistas, o momento do anúncio – pouco antes da cimeira – visa reforçar a posição estratégica do Cazaquistão nas discussões sobre matérias-primas críticas.
Durante o evento, a União Europeia anunciou um novo plano de cooperação com o país para o período de 2025–2026, com foco em pesquisa, inovação e prospeção geológica. Para Aleška Simkić, embaixadora da UE no Cazaquistão, a revelação ajudou a colocar o país em destaque nas agendas europeias, embora ainda haja desafios a superar no setor de terras raras.
Segundo a empresa que lidera a exploração, o desenvolvimento total da área pode levar até seis anos e exigir um investimento inicial de cerca de 10 milhões de dólares. Arthur Poliakov, presidente do Fórum MINEX, estima que o início da extração efetiva poderá demorar entre 10 e 12 anos, destacando a necessidade de cooperação internacional.
Atualmente, o Cazaquistão carece de tecnologia para o processamento avançado desses elementos, o que exige parcerias com países como China e membros da União Europeia. A China, maior consumidor e fabricante de produtos à base de terras raras, é apontada como um parceiro provável, enquanto a UE surge como aliada natural por conta da sua agenda ecológica e foco em tecnologias sustentáveis.
Contudo, questões logísticas continuam sendo um entrave, e especialistas sublinham a importância do desenvolvimento do chamado “Corredor do Meio” para facilitar a ligação entre Europa e Ásia Central.
A próxima fase do projeto deve ficar a cargo da empresa estatal Tau-Ken Samruk, que já está envolvida em estudos geológicos adicionais, escolha de tecnologias e análise de viabilidade. Segundo o Ministério da Indústria e Construção, ainda está em avaliação se o projeto seguirá para leilão ou será conduzido diretamente pela empresa nacional.